domingo, maio 29, 2005

Entretenimento.com (Parte I)



Enquanto a madrugada deixava seus raios entrarem pela janela, os dois se divertiam emcima daquela cama enfezada. Procuravam não se mexer muito, com medo que fossem de encontro ao chão ou acordassem os meninos, que dormiam no quarto ao lado. As condições da cama não eram as melhores.
Naquele momento, não havia lençol de cetim, nem mesmo um espumante qualquer, afinal, a pequena renda da qual dispunham não lhes proporcionava tais exageros.
Tentavam repetir o ritual pelo menos três vezes por semana, para evitar que o casamento esfriasse. Já não era o desejo que imperava, mas o costume. Estavam acostumados com a situação.
Cada ritual era uma válvula de escape, um momento de fuga, onde não havia fome, doenças, goteiras, contas, desemprego, violência e nem mesmo todas aquelas proteções e cuidados tão falados, pois eram marido e mulher e não precisavam de tais artifícios. Só pediam pra que Deus os abençoasse, e não lhes mandasse mais uma criança de presente. A reza era brava.
Depois que o trabalho era feito, só lhes restava o sono como consolo. Bem sabiam que, na manhã seguinte, o café traria todos os problemas de volta.

Larissa Campos

sexta-feira, maio 06, 2005

Seção Nostalgia!



Zenaide Dall'Agnol Marques e Osório Lucchesi Marques em foto tirada no ano de 1969 na cidade de Palmas-PR.

=> "Primo Gian"... agradeço por me ceder a foto de seus avós. Lindíssima!

obs: acabei de mudar o servidor dos comentários, por esse motivo, todos eles sumiram. ( Agradeço aos amigos que deixaram seus comentários por aqui. Vamos começar do zero).

...era o começo de tudo...



Era em frente ao portão do parque que suas tardes de domingo começavam. Ela, sempre adiantada, esperava os sagrados 25 minutos de atraso do amigo querido. Algumas vezes até pensara em se atrasar, mas a simples idéia de falhar lhe causava alergias. Se a chamassem de neurótica nem ligaria, porque tinha convicção de que o era.
Como de costume, sempre ia sentar-se na pedra que ficava entre as primaveras. Tirava os sapatos, cruzava as pernas e deixava a bolsa de lado. As mãos logo procuravam ajeitar alguns malditos fios de cabelo, que não paravam no lugar. A única maneira de esquecê-los era acendendo o cigarro e se deixando levar. Cantarolava antigas canções e batucava nas pernas "ritmos" descompassados. Antes que o cigarro chegasse ao fim, escolhia uma das flores mais lindas e a queimava inteira. Era prazeroso ver a beleza se desfazer aos poucos e sentir-se responsável por tal crime.
O segundo cigarro sempre era aceso entre as viradas de página de algum livro. Naquele dia, Twain a acompanhava. Perto do fim, o segundo cigarro deixaria uma marca sutil na última página.
Por mais concentrada que o livro a deixasse, sempre previa a chegada dele. Vê-lo já era suficiente para fazer o coração correr até a boca e voltar um milhão de vezes. Com rapidez, ela guardava o livro e colocava um cravo da índia na boca. Os vestígios do cigarro ficariam para trás. O mundo ficaria para trás.
Um abraço: eis o início de tudo.
- 25 minutos de atraso..., dizia ela apontando o relógio.
- 2 cigarros a mais... dois anos de vida a menos! - respondeu ele, provocando risos e já oferecendo o braço esquerdo a ela.
Atravessavam o portão. Finalmente se sentiam vivos!

Larissa Campos