domingo, agosto 07, 2005

Delatora.


Assim que os legistas chegaram, foram logo tratando de afastar a multidão de curiosos que se amontoava em torno do cadáver. A madrugada corria majestosa e o maior inimigo naquele momento era o sono. Para vencê-lo, contava-se com xícaras e mais xícaras de café, única maneira de retomar a atenção de que precisavam para procurar os mínimos indícios de culpa.
Imediatamente, descobriu-se que havia mais de 15 digitais diferentes espalhadas pelo corpo da vítima. Número esse, que retardaria uma possível prisão do indivíduo culpado. As possibilidades de latrocínio foram deixadas de lado, uma vez que nem mesmo o caro anel de ouro que enfeitava o dedo daquele pobre diabo, havia sido roubado. Identificar-lhe também não foi problema. A fama de suas pernas atravessava fronteiras, chegando a causar rebuliço nas imediações de Niterói ou na Ilha do Governador. Nem por isso, a perícia deixaria de analisar a carteira e os documentos da vítima.
Deu-se, então, a grande surpresa. Em meio a tanto papel sem importância, descobriu-se um olerite suspeito, comprovando que a defunta era alta funcionária da Câmara.
- Salário invejável!, disse um dos legistas. E não demorou muito para que um cidadão qualquer fizesse a intervenção:
- Salário invejável? Às vezes, essa analfabeta vadia nem tinha o que comer!
- Isso será prato cheio para a Federal, concluiu o delegado.
Ao fim de toda a análise, lá se foi o corpo daquela Maria, ao encontro da parte do latifúndio que lhe cabia.
Semanas depois, a P.F. prendia Joaquim Francisco da Silva, deputado e amante da falecida; homem ambicioso, que há mais de cinco anos mandava o dinheiro de 20 funcionários fantasmas descansar em contas na Suíça.

Larissa Campos