sexta-feira, maio 06, 2005

...era o começo de tudo...



Era em frente ao portão do parque que suas tardes de domingo começavam. Ela, sempre adiantada, esperava os sagrados 25 minutos de atraso do amigo querido. Algumas vezes até pensara em se atrasar, mas a simples idéia de falhar lhe causava alergias. Se a chamassem de neurótica nem ligaria, porque tinha convicção de que o era.
Como de costume, sempre ia sentar-se na pedra que ficava entre as primaveras. Tirava os sapatos, cruzava as pernas e deixava a bolsa de lado. As mãos logo procuravam ajeitar alguns malditos fios de cabelo, que não paravam no lugar. A única maneira de esquecê-los era acendendo o cigarro e se deixando levar. Cantarolava antigas canções e batucava nas pernas "ritmos" descompassados. Antes que o cigarro chegasse ao fim, escolhia uma das flores mais lindas e a queimava inteira. Era prazeroso ver a beleza se desfazer aos poucos e sentir-se responsável por tal crime.
O segundo cigarro sempre era aceso entre as viradas de página de algum livro. Naquele dia, Twain a acompanhava. Perto do fim, o segundo cigarro deixaria uma marca sutil na última página.
Por mais concentrada que o livro a deixasse, sempre previa a chegada dele. Vê-lo já era suficiente para fazer o coração correr até a boca e voltar um milhão de vezes. Com rapidez, ela guardava o livro e colocava um cravo da índia na boca. Os vestígios do cigarro ficariam para trás. O mundo ficaria para trás.
Um abraço: eis o início de tudo.
- 25 minutos de atraso..., dizia ela apontando o relógio.
- 2 cigarros a mais... dois anos de vida a menos! - respondeu ele, provocando risos e já oferecendo o braço esquerdo a ela.
Atravessavam o portão. Finalmente se sentiam vivos!

Larissa Campos

<$I18NNumComentários$>:

Anonymous Anônimo disse...

oi larissa!!!!
um abraço..
Thaís

6 de maio de 2005 às 12:51  

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