sexta-feira, julho 29, 2005

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Tempero dos dias acinzentados
Trouxe de volta as tardes arlequinais
Misturou os melhores sabores
Coloriu as páginas dos jornais.

Há quem diga que é um sonho
Pra mim é contentamento
Mesmo que sempre me escape
Feito poeira no vento.


Larissa Campos

=> Se eu pudesse, espalharia purpurina pelo mundo todo.


sexta-feira, julho 08, 2005

Eu X Sonhos




"A fome se materializava na profundidade daqueles olhos. Não falo apenas da fome que os alimentos acabam por sufocar, mas da fome de futuro, de objetivos. Comida bem que poderia ser o seu objetivo maior naquele momento, mas não deveria ser o objetivo de uma vida inteira. Essa era a maneira como eu enxergava as coisas. Maneira deturpada, um tanto burguesa. No fundo, nem todos os homens são feitos de sonhos."

Foto by: Gonçalo Barros.

domingo, julho 03, 2005

Sonidos.

Já fazem mais de três anos que conservo o hábito de passar minhas manhãs de domingo naquela mesma praça. No fundo, nunca soube explicar o por quê de, entre tantas e tantas praças, eu tê-la escolhido como local das minhas divagações. E não deveria haver melhor palavra para expressar o significado daquelas manhãs do que "divagações", que, somandas ao bem-estar proporcionado por aquele lugar, não me deixavam sentir a menor saudade da cama que havia deixado para trás, dos programas esportivos ou dos clássicos humorísticos.
Por volta das 8 eu chegava ao destino, depois de um trajeto de aproximadamente 20 minutos, onde sempre havia um grande nome do Samba disposto a me acompanhar. Para mim, o Samba tinha a cara dos domingos, ou quem sabe, os domingos tivessem a cara do Samba. Na praça, porém, os companheiros eram outros: um livro, a garrafa térmica e minha cuia de chimarrão, para lembrar dos anos de infância no Sul. Impossível haver algo mais nostálgico: Mários, Carlos, Clarices e Fernandos eram regados por chimarrão.
Frescos como a tinta de um banco recém-pintado, ou como a fruta mais bonita da quitanda do Seu Zé, as lembranças do dia em que ele chegou permanecem vivas. Chegou com a cabeça baixa e sentou-se no banco que estava a minha frente. Seu único companheiro: um violão.
Ao levantar a cabeça, colou seu olhar no meu. Olhar que, de tão triste e profundo, fez com que nada mais tivesse importância, nem mesmo as cores que nos cercavam.
Apesar de tudo, era impossível não reparar nos cabelos e na barba, já que estavam um tanto compridos. Aquelas madeixas encheram minha cabeça de perguntas impertinentes: Comunista? Viciado? Desempregado? Ou artista?
Os dedos longos tocaram carinhosamente as cordas e a voz mais suave do mundo, numa vibração perfeita de moléculas, chegou aos meus ouvidos, dizendo: "Hoje eu ouço as canções que você fez pra mim..."
Na hora, pensei: "Comunista ele não deve ser".

Larissa Campos